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A DuckDuckGo se intitula “a máquina de pesquisas que não o vigia”. Depois das revelações nos arquivos da Agência de Segurança Nacional dos EUA, isso parece tentador. Batizado com o nome do jogo de playground americano “pato pato ganso”, o site não aposta apenas no apoio de pessoas paranoicas sobre o GCHQ, o órgão de inteligência britânico, e a NSA, sua homóloga nos EUA. Seu fundador, Gabriel Weinberg, afirma que a privacidade torna a pesquisa na web melhor, e não pior. Como o site não armazena suas buscas anteriores, não pode apresentar resultados personalizados. E isso liberta os usuários do “filtro bolha” – o temor de que, conforme os resultados de buscas são cada vez mais personalizados, eles têm menor probabilidade de receber informações que desafiam suas ideias preexistentes. Também significa que o DuckDuckGo é obrigado a manter seu enfoque meramente na busca. Sem lojas ou dados para utilizar, ele não pode se tornar um gigante da publicidade, não tem motivação para tentar construir uma rede social e nada ganha rastreando seus e-mails para criar um perfil pessoal. Tendo respondido a um bilhão de pesquisas só em 2013, DuckDuckGo está em ascensão. Nós entrevistamos Weinberg sobre a trajetória de seu site.

Por que você criou o DuckDuckGo em 2008?

O DuckDuckGo não surgiu de qualquer motivação real para fundar uma máquina de buscas. Eu tinha saído de minha última empresa em 2006 [The Names Database, uma rede social que Weinberg vendeu por 10 milhões de dólares] e estava concentrado em vários projetos pessoais. Um deles era combater o spam nos resultados de pesquisas. Havia muitos sites que eram obviamente spam no Google na época, mas eles pareciam muito fáceis de identificar. Outro eram os dados obtidos de um grande número de pessoas [crowdsourcing]. Eu me vi indo muito à Wikipedia e ao IMDB, sites que usavam dados de grupos, onde você só recebe respostas. A terceira perna foi que eu entrei em um curso de vitrais, onde eles entregavam uma lista de links que eram os melhores lugares para procurar informações sobre produção de vitrais. Eles não se equiparavam aos resultados de uma pesquisa no Google. Então eu comecei um terceiro projeto sobre tirar os links da cabeça das pessoas para descobrir onde estavam as melhores coisas. O DuckDuckGo se situa na pequena cidade de Paoli, na Pensilvânia. Quanto você pensa que a localização o coloca fora do meio geral do Vale do Silício? Nós não nos sentimos conectados com esse meio. Na verdade, eu não sou daqui. Minha mulher e eu decidimos juntos nos mudar para cá porque pensamos que seria um bom lugar para criar filhos e por outros motivos profundos que não têm sentido para as pessoas fora dos Estados Unidos. Eu acho que qualquer pessoa em uma posição semelhante no Vale do Silício teria conseguido muito mais dinheiro, muito antes. Mas esse não foi o nosso foco. E também basta ver que temos 75% de trabalhadores remotos. Isso é uma coisa muito não Vale do Silício. Normalmente você contrata os melhores engenheiros possíveis das grandes escolas e traz todos para um mesmo lugar, para que possa colocá-los na empresa. Depois de tantos anos, parece que as pessoas estão finalmente falando sobre privacidade… Sim, e acho isso justo. Não acho que é uma moda. Uma das grandes coisas que as pessoas notaram no ano passado foram os anúncios que as acompanham pela Internet, e talvez seja essa a ideia mais visível dessa nova mentalidade de rastreamento que a maioria das empresas está adotando. Essas tendências não estão desaparecendo. Mais rastreamento na Internet, mais vigilância, por isso eu acho que quando as pessoas descobrirem elas vão querer não participar disso, em certa porcentagem.

Quando você começou, seu único objetivo era construir uma máquina de buscas melhor. Quando decidiu que a privacidade era crucial para ela?

Respostas instantâneas e filtragem de spam foram realmente o enfoque inicial e ainda são, em termos de diferenciação de produto. Mas muito rapidamente depois disso – eu teria feito desde o início se tivesse realmente pensado nisso, mas não tinha – estava a privacidade. Os dados que você compartilha com sua máquina de busca são os dados mais pessoais. Porque você não se preserva com sua máquina de buscas. Você não pensa a respeito nesse contexto. Você pensa “Ah, eu tenho um problema financeiro… basta digitar!”, e portanto o histórico de buscas é realmente pessoal. Também tem sido cada vez mais usado para marketing, está disponível para intimações judiciais e, como sabemos desde o ano passado, também está disponível para vigilância, por outros meios ocultos. A maior parte do dinheiro que uma máquina de buscas ganha vem de mostrar um anúncio ou alguma coisa comercial, como um carro ou sapatos, quando os usuários pesquisam por eles, e não rastrear não impacta esse modelo empresarial.

Por que não tornar anônimos os dados que você coleta, em vez de oferecer pesquisas totalmente incógnitas?

A realidade mostra que toda vez que alguém tentou anonimizar os dados foi um fracasso. Desde que você possa amarrar as buscas e manter qualquer rastro da informação, qualquer informação pessoal que possa ligar as coisas de volta a você, então eu acho que não é realmente privado. Você é contra o rastreamento em nível pessoal, ou são apenas negócios? Não, eu tenho uma oposição filosófica. Eu penso nisso mais como política de privacidade do que geral. Acho que elas deveriam ser configuradas para haver a menor coleta necessária, em oposição à maior coleta possível. Outra maneira de ver isso é que eu acho que eles deveriam ter uma troca, “você está dando esse pedaço particular de informação pessoal e você está recebendo este benefício”, em oposição à atual situação, que é “vamos coletar qualquer coisa que pudermos e não lhe dizer quais são os benefícios”, apenas dizer em geral “claro, você vai se beneficiar disto”. Acho que essa é a principal diferença. E algumas companhias já começam a se mover nessa direção, mas muito lentamente.

É possível fazer uma boa máquina de buscas sem coletar dados nos níveis do Google?

Acredito que você pode mudar para nós hoje e ficará bem. E as pessoas estão mudando. E você pode ter uma experiência melhor! Mas também, se você olhar suas buscas no Google e o que está aparecendo, realmente é mínimo o volume de seu histórico de buscas que eles usam para modificar os resultados. Eles não estão realmente usando esses dados hoje para melhorar os resultados das buscas de uma maneira significativa – pelo que podemos ver. Estão usando para outras coisas. Estão usando-os para rastrear você na rede de publicidade.

Isso significa que você recuou um pouco em sua luta contra as pesquisas personalizadas?

Nós não recuamos! Acho que, para redefinir meu caso, não creio que os dados pessoais, essa personalização, tenha sido muito útil. O caso que todo mundo menciona é quando, por exemplo, você digita “tempo”, ou digita “pizza”, você quer o tempo local ou uma pizzaria local. Então, podemos fazer isso em nossa caixa de resposta instantânea – usando sua localização no ato, e não armazenando-a – e não mudar os verdadeiros resultados dos links. Por isso eu acho que a maior parte do que as pessoas chamam de personalização é na verdade localização, e podemos fazer isso sem rastrear as pessoas. Você disse antes que rastrear poderia ser usado para cobrar mais das pessoas se seus perfis revelarem que elas têm muito dinheiro.

É algo que você acha que realmente vai acontecer, ou é um cenário exagerado?

É real e já está acontecendo – e será ampliado. Minha visão geral é que se houver informação que possa levar as empresas a aumentar seus lucros elas o farão, a menos que haja um regulamento contrário. Por isso definitivamente acho que está aí, mas as pessoas simplesmente não sabem que já existe.

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Fonte: http://www.cartacapital.com.br/tecnologia/duckduckgo-enfrenta-o-google-com-buscas-invisiveis-7787.html